sexta-feira, 25 de junho de 2010

DESISTIR

"Há momentos, assim, em que você é obrigado a desistir. você nem queria, nem estava cogitando, na verdade nem passava pela sua cabeça. era tão sólido, tão consistente, tão para sempre. bem, pelo menos parecia. mas em alguma virada de esquina as coisas mudaram. foi o vento? foi a lua? foram as perspectivas? de que adianta saber por que as coisas mudam? a única verdade do mundo é ser imprevisível.

Então você se vê na metáfora de uma casa que foi destruída por um terremoto. você volta lá para revirar os escombros e ver o que sobrou. mais: para ver o que pode fazer com o que sobrou. porque, convenhamos, sentimentos não são suficientes nesta vida. eles só valem para você mesmo. importa é saber o que fazer com eles, como agir diante deles. ou apesar deles.

Você não estava preparado para uma terra tão arrasada. se alguém dissesse que isso iria acontecer com você, você teria rido. tudo bobagem: na verdade, a gente nunca está preparado para algo assim, que atinge o centro.

Somos todos arqueólogos de nossos amores. quer queira, quer não, você vai ter que pisar nestes escombros, segurando uma lanterna, e olhar tudo com atenção para achar ali o que pode ser guardado. esta é a sua coragem. você junta um retalhinho de pano, um pedaço de uma foto que resistiu, um cálice que não estilhaçou, uma caixinha que não queimou. com concentração, paciência e gentileza, você enche uma sacolinha com as coisas que representam uma experiência que jamais será esquecida.

E aí você se dá conta, entre o espanto e o desalento, de que será obrigado a desistir (do que sentia). não era a sua vontade, mas viver é assim mesmo. casas se erguem, você vive e dança nelas. e um dia você sai com uma sacolinha. tão preciosa, tão maravilhosa, tão significativa. tão sua, que apenas para você ela faz sentido. e desistir significa, também, saber do quê se está desistindo. de tudo? não. na verdade, depende do que você recolheu na sacolinha. é dela que vão sair seus novos sentimentos, suas novas perspectivas, seu novo você."

Márcia Benetti.

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